As primaveras chegam com a Primavera!
As primaveras são muitas!
Chegam como quem desperta memórias adormecidas nas raízes da terra,
Tingindo o ar de promessas.
Cada cor é um sopro, um instante que insiste em se eternizar nos olhos.
O rosa vem como ternura que se espalha em véus leves.
O lilás guarda segredo profundo, como um pensamento noturno que ousa florescer ao sol.
O branco se abre como uma pausa silenciosa, onde até o tempo hesita em passar.
E o vermelho arde como a chama que não pede licença,
Como paixão que se escreve em brasa.
Assim a Bougainville se ergue como um oráculo da vida.
Não floresce, transborda.
De seus ramos despencam cascatas de cor,
Que caem sobre muros e portões,
Como se quisessem dissolver fronteiras entre dentro e fora,
Entre o íntimo e o mundo.
É como uma desordem sagrada: ensina que a beleza não precisa ser contida,
que a intensidade também é uma forma de sabedoria.
Seus tons são palavras não ditas, são gritos convertidos em música silenciosa.
E assim, quando as primaveras se inscrevem nas ruas e jardins,
o que elas nos dizem é simples e infinito:
Florescer é um destino, ainda que sobre pedras, ainda que à beira do abismo.
A bougainville, em sua explosão de cores, lembra que a vida não foi feita para caber em margens estreitas.
Ela nos convida a ser excesso e entrega desmedida, a ousar o impossível de cada instante.
Porque as primaveras passam.
Mas o gesto de florescer permanece.
