Que estranha é a mente, insondável beleza
com várias gavetas, um porto no cais.
Talvez por desejo, descuido ou defesa,
acolhem memórias. Nem todas reais.
Gavetas abertas cintilam lembranças
em flashes sucesso, coragem, amor.
Um simples sorriso trazendo bonanças,
o abraço apertado vencendo o temor.
Algumas trancadas por dentro e por fora
escondem os traumas que eu tento esquecer.
Angústias e mágoas, a dor de ir embora,
o pranto abafado no breu do sofrer.
Gavetas tão sábias, relíquias espertas,
integram os fatos. Será que aprendi?
Declives, subidas… Nas horas incertas
reforçam os passos… Há muito a seguir.
Mas outra gaveta, paciente, me aguarda.
E só no futuro eu irei preenchê-la.
A vida promete… A resposta não tarda.
Espero sorrir quando enfim for revê-la.
Sorrir pelo sim e alguns “não” contornados,
os dons transformados em plenas ações.
Prazer de se estar com amigos e amados,
a paz conquistada em feitio de orações.
Quem sabe, algum dia, as gavetas libertas
pincelem o céu com essência jasmim:
Os dramas e sonhos, verdades secretas,
as rimas e a trilha escolhida por mim.
Em meio à incerteza de “como” e “quando”,
a essência persiste, transpondo umbrais.
Por ora eu só sei que vou engavetando
as gratas surpresas que a vida me traz.