Em frente ao espelho, indeléveis lampejos…
E eu vejo que o tempo, implacável, avança.
As marcas no rosto denotam desejos
e o leve cansaço da longa andança.
Se tu foste mágico, espelho eremita,
mostrando o passado com múltiplas faces,
eu só me veria mais jovem, bonita,
com brilho nos olhos sem dor ou disfarces.
O charme da lida é o amor que liberta
do peso de sermos tão frágeis sozinhos.
Eu, jovem, então, sorriria, desperta,
nos braços felizes dos novos caminhos.
Se tu foste mágico, espelho de bronze,
prevendo futuro pra quem ainda rima,
estrela eu seria a brilhar no horizonte,
na vida contida no dom de outro prisma.
Estrela a inspirar os amores e enredos
em outros poetas num doce acalanto.
na roda que segue com muitos segredos
em ciclos e teias por lei ou quebranto.
Se mago tu foste com nobre coragem,
daqueles que nada e ninguém mais duvida,
traria, ó espelho, de volta a imagem
da infante candura da minha guarida.
Então me veria a brincar, animada,
sentindo-me livre, capaz, campeã.
Criança a rezar para o anjo da guarda.
Confia na brisa que traz o amanhã.
Enquanto o tempo reafirma seus planos,
eu busco entender o porquê do novelo.
E mudo de faces ao longo dos anos,
aqui reunidas ao ver-me no espelho:
Figura matura, tão grata ao presente.
A moça fiel ao que sempre sonhou.
Estrela em poesia, brilhando envolvente.
E aquela menina? É quem ainda sou…