A caminho do mar,
pedalo enquanto acordo
Dia embaçado
Sono ainda agarrado Pernas lentas
Céu desbotado
Moradores de rua espalhados
ainda dormem
Um em cada canto
Cobertos
Escondidos
Encardidos
Sumam Não existam
Minha vida é muito boa
Saiam daqui
Sofram longe de mim
Vontade de não vê-los
Mas vi
Na esquina, um vascaíno
Casaco preto
Cruz de malta no peito
Meu avô era português
vascaíno também
Queria ter deitado em seu colo
Morreu
Depois nasci
Caminhão na contramão
Mar calmo
Sol iluminando as casas do Vidigal
Brancos correm e pedalam
Pretos carregam sacos de gelo e côco
Água gelada
Brilhos azuis fluorescentes
Parecem olhos de micro peixes
Me distraem entre as braçadas
Muitas braçadas
Muita água
Muita dor
Muita cor
Muita falta
Não queria ver
Não queria saber
Não queria sentir
Vejo
Sei
Sinto
Vivo
Intensamente
Enquanto muitos outros morrem
Antes da hora
Luisa Aguiar