Poema Guardado

A caminho do mar,

pedalo enquanto acordo

Dia embaçado

Sono ainda agarrado Pernas lentas

Céu desbotado

 

Moradores de rua espalhados

ainda dormem

Um em cada canto

Cobertos

Escondidos

Encardidos

 

Sumam Não existam

Minha vida é muito boa

Saiam daqui

Sofram longe de mim

 

Vontade de não vê-los

Mas vi

 

Na esquina, um vascaíno

Casaco preto

Cruz de malta no peito

Meu avô era português

vascaíno também

Queria ter deitado em seu colo

Morreu

Depois nasci

 

Caminhão na contramão

Mar calmo

Sol iluminando as casas do Vidigal

Brancos correm e pedalam

Pretos carregam sacos de gelo e côco

 

Água gelada

Brilhos azuis fluorescentes

Parecem olhos de micro peixes

Me distraem entre as braçadas

 

Muitas braçadas

Muita água

Muita dor

Muita cor

Muita falta

 

Não queria ver

Não queria saber

Não queria sentir

 

Vejo

Sei

Sinto

 

Vivo

Intensamente

 

Enquanto muitos outros morrem

Antes da hora

 

Luisa Aguiar

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      É um movimento literário aberto a médicos, estudantes e pessoas de todas as áreas com foco em promover saúde, satisfação com a vida, bem-estar, desenvolvimento de boas emoções e sentimentos através da escrita, trocas de experiências e conhecimento, comportando-se de forma terapêutica.
       
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